Oficina do Livro Editora

Amizade

AMIZADE

Silvia Bruno Securato

(extraído do Livro ALAB e o mesmo texto encontra-se no livro NMV9)

Quem encontra um amigo encontra um tesouro. (Eclo 6,14)

Nada é comparável a uma amizade sincera, a certeza de saber em quem se pode contar, em qualquer momento, seja em qual for a situação. Às vezes, “amigos relâmpagos” surgem como anjos, por um instante, em uma única ocasião, mas deixam marcas positivas, por seus atos solidários e, para sempre, essas pessoas, são lembradas. Momentos ou atividades em comum unem as pessoas e, muitas vezes, de maneira mais estreita e duradoura. A amizade cresce serena, de mansinho, se firma como uma árvore imponente. É a ponte entre duas almas. A amizade inicia na simpatia, as afinidades vão se apontando e se somando. As palavras-chave desse tesouro chamado amizade são: admiração, aceitação, confiança, credibilidade, cumplicidade. É o saber ouvir, saber calar, oferecer um abraço, uma palavra, um gesto, um sorriso, chorar junto, estender as mãos, dar as mãos… Cada pessoa tem suas qualidades e defeitos, tem seu potencial próprio, suas características peculiares de temperamento e de comportamento. Tem sua bagagem emocional pessoal. Amigos não são pessoas de temperamentos iguais, mas pessoas que se admiram, que respeitam a individualidade do outro, aceitam os limites e vibram com as qualidades. Muitas vezes, é a soma das diferentes qualidades, entre duas pessoas, que dão sustentabilidade às amizades verdadeiras. Nos tornamos mais completos quando encontramos pessoas fortes naquilo em que somos fracos. Essa soma engrandece, enriquece, fortalece qualquer relacionamento. No casamento, gera uma união estável e fortalecida. No trabalho, a serenidade, a paz de se estar rodeado por pessoas que estão bem, que se sentem bem, que se completam, que vibram com o sucesso um do outro, é uma dádiva preciosa! A vibração positiva gera uma energia impulsionadora de criatividade e progresso. Na sociedade, proporciona bons momentos de lazer, ameniza os dolorosos, estimula quando necessitamos de uma força maior ou um simples empurrãozinho. Quem encontra um amigo, encontra um tesouro! Eclesiástico, um dos livros sapienciais da Bíblia, descreve minuciosamente a máxima da amizade! Afirma que um amigo fiel é proteção, é remédio. Diz que uma boa palavra multiplica os amigos! Ora, uma boa palavra só sai de um coração bondoso, livre de maus pensamentos ou intenções. Quem reconhece suas limitações e cultiva suas próprias qualidades, respeita os méritos dos outros. Já os inseguros vêm no outro uma ameaça constante. Diz, ainda, o mesmo livro, que é bom nos darmos bem com todos, mas ótimo é escolher um conselheiro entre mil. Sim, pois, muitos confundem relacionamento profissional ou social com a dádiva da amizade. Relacionar-se bem é saudável, é ético. Porém, o excesso de intimidade, em determinadas ocasiões, é bastante negativo, pois prejudica o bom êxito nos negócios, desvia as atenções do foco principal de um determinado projeto, põe a perder planos importantes. Eclesiástico, no versículo 9, faz um alerta importante: há amigo que torna inimigo, e há amigo que desvendará ódios, querelas, disputas… É quando o melhor amigo se torna o pior amigo; e daí para ser o melhor inimigo é um passo! É quando o tesouro se transforma em besouro! O que não deve, ou melhor, o que é proibido entrar num relacionamento amistoso são: a disputa, a mentira, e a inveja! Não sei em que ordem surgem esses besouros malignos; porém, o que sabemos é que não queremos esses bichinhos pretos, de casca dura voando em nossa direção! Isso não! Nada contra eles, são serzinhos de Deus, mas desde que fiquem longe de nós, são bem aceitáveis. A mentira é uma arma bastante usada pela covarde pobreza de espírito. Quando as mentiras são frequentes, elas assolam qualquer relacionamento. Surgem por insegurança, por disputa, por querer abafar o outro. Inveja é o maior mal que pode existir. Invade, destruindo da mesma forma que o ácido corrói o que encontra pela frente. A inveja é o antônimo da criatividade. É a preguiça de desenvolver as próprias qualidades. Ao invés disso, a inveja fica de olho no que o outro faz, investiga, especula, para atrapalhar, trapacear, destruir. Não existe uma pessoa tão pobre que não tenha nada, absolutamente nada para oferecer à outra, ou a um grupo. Todos nós temos qualidades e valores importantes para enriquecer o outro e, essas qualidades ficam mais dinâmicas quando partilhadas, somadas com as dos outros. É a boa engrenagem dos relacionamentos sinceros e duradouros. Porém, a inveja é capaz de tornar nula qualquer pessoa. Ela passa a ser uma contadora de vantagens, cria para si um mundo virtual de mentiras, acaba acreditando em suas próprias teias e, mais cedo ou mais tarde, nelas se enroscam. Perdoar esses besouros trapaceiros é fácil. O impossível é restabelecer a confiança, que é o primeiro degrau, o alicerce de uma amizade verdadeira. A amizade verdadeira não é pedinte, não mendiga atenção, não é invasiva, não a coloca em cheque, não reclama direitos, não extrapola. A amizade verdadeira é suave e mansa. O mesmo livro de Eclesiástico avisa: separa-te daqueles que são teus inimigos. (Eclo, 6-13) Sem o primeiro passo – a confiança – não há como seguir adiante. O melhor é deixar a erva daninha para trás, pois na caminhada da vida havemos de encontrar pessoas de boa índole e de caráter impecável, para seguir conosco, os caminhos rumo ao futuro, na verdade, na transparência e na parceria. Quando a confiança se transforma em cumplicidade, podemos dizer: – Tenho um tesouro, tenho uma amizade verdadeira!

Publicado originalmente na Coleção Nós, Mulheres – Desafios e Conquistas dos Novos

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