No mês de setembro, lançamos um desafio literário especial em nosso grupo do WhatsApp. Inspirados por uma imagem misteriosa e evocativa, convidamos todos a deixar a imaginação fluir e criar uma obra literária única.
Como você interpreta essa imagem? Quais histórias ela desperta em sua mente? Seja um conto, poema, crônica ou qualquer outra forma literária, queremos ver a magia que essa imagem trouxe à tona em suas palavras.
Abaixo, apresentamos as incríveis criações dos participantes deste desafio:
Participante 1: Lela Couto
A VIDA PASSA
A vida passa… sentada na calçada, envolta em pensamentos, a vida passa.
Passa a vida… passam os anos… passam os sonhos.
Mas porque passam os sonhos? Não podemos… a vida passa sim, mas os sonhos não podem passar!
A vida passa, sentada na calçada, pés no chão, cesta de frutas nas mãos, olhar distante… perdido não se sabe onde.
Olhar distante… tristes, em busca de algo que se perdeu… mas se perdeu onde? quando? como? Quando estávamos sentados na calçada, apenas vendo a vida passar, sem reagir… sem sonhar!!!
A vida passa…
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Participante 2: Walter Duarte
A FLORISTA
Em tua cesta um jardim,
tão jovem, os pés no chão,
tens um triste olhar assim,
inspiraste esta emoção.
Todo dia nesta praça,
a vender as tuas flores,
tu tens de uma fada a graça,
sinto em teus olhos sabores.
Não sei se tens um alguém,
ou esperas quem não vem,
se de carinho tens fome.
Aceita meu admirar,
de ti irei me lembrar,
e nem mesmo sei teu nome.
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Participante 3: Maria Braga Canaan
ANJOS EXISTEM
A jovem cansada, com os pés queimando no asfalto, sentou para tomar fôlego. A cesta continuava cheia de frutas. Precisava vendê-las. Deixou as sandálias rotas arrebentadas em casa. Não teve tempo para tentar remendá-las. Acreditou ter os pés mais resistentes para aguentar o sol escaldante. Não tinha. Colocou a sacola ao lado e ficou. Quem sabe alguém passasse por ali e comprasse toda mercadoria. Sonhava com o príncipe encantado dos contos de fadas que costumava ler, mas a sua realidade não permitia que parasse para sonhar. Ficou ali porque seus pés ardiam e as bolhas estavam começando a brotar. Dormiu e sonhou. Em seu sonho um anjo aparecia e prometia ajudá-la. Seus irmãos pequenos precisavam de leite e pão. Com o dinheiro da venda das frutas, poderia comprar mantimentos. Acordou sobressaltada com uma voz feminina chamando por ela. Não era o príncipe encantado, mas um casal bem- vestido que comprou toda a sua mercadoria. Suspirou feliz. O sol se pôs, a noite chegou e o chão não mais queimava os seus pés. Voltou para casa com a cesta vazia e a sacolinha. Graças a Deus, tinha dinheiro suficiente para alimentar os que estavam em casa.
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Participante 4: Jeny Soutto Mayor
MIRAGENS
Ela se mostra
Tão simples…
Ali
Como
Se nada mais
Importasse.
Traz
Descalços os pés
E na languidez
Abandona-se
No segurar
Do cesto.
Será sua paz
Uma ilusão?
As flores
Constituem outra narrativa
Apesar de tudo
Continuam flores
São belas e coloridas
E não há
Problemas nisso.
Ofertam
Sem pudor
Aos olhares
Anônimos,
O diálogo com o belo.
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Participante 5: Nancy Alcântara
PÉS CANSADOS
Calcei meus lindos pézinhos de tanto caminhar em vão a procura de pessoas que queiram saborear e comprar, por um preço ínfimo, as minhas cerejas plantadas e colhidas por minha avó.
Andei pelo vilarejo todo desde que o Sol deu “bom dia” a todos e ordenou que levantassem para laborar mais um dia de verão escaldante.
A cesta de cerejas foi preparada cuidadosamente pelo meu avô, de modo a não amassar as frutinhas tão saborosas.
Por que ninguém as querem? São doces. Digo.
Acredito na crise financeira, não há dinheiro para tanto esbanjo e consumismo por uma frutinha que pouco alimenta. Penso eu…
Dei sugestão a minha avó para preparar compotas, seria mais fácil vende-las, já que nem todos sabem fazê-las e que tem uma durabilidade maior. Mas, de novo vem a crise, não há dinheiro para os potes ou melado.
Difícil…
Parece que o dono da casa me observa da janela. Devo voltar a caminhar, acredito estar incomodando.
Difícil…
Difícil mesmo vai ser calçar os sapatos novamente!
Que Deus nos ajude!
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Participante 6: Rosemari H. Novelli
MARIE CERISE
(olhos negros são raros. Dizem que existem dois tipos de olhos negros : os olhos-ônix brilhantes, que mostram suas emoções, e olhos-azeviche, quase sem brilho, que não as mostram para ninguém… )
Ele era um verdadeiro mestre das geleias de frutas .
Un maître pâtissier, diriam seus amigos. Se os tivesse, mas não tinha.
Gostava da solidão.
Em suas reflexões, não havia conseguido concluir ainda se preferia sentir o aroma das frutas, que emanavam vagarosamente no vapor de suas panelas, ou das tintas que misturava para formar as mais lindas cores.
Cores que só perdiam em beleza para as verdadeiras. Aquelas que enchiam seus olhos no amanhecer, anoitecer, no luar que caia sobre o lago. Quanto encanto fartava em suas telas nas nuances de verde, azul, laranja, vermelho…
Un maître de la peinture, diriam os olhos mais analíticos. Se as mostrasse, mas não o fazia.
Era um recluso, por opção e por gosto.
****
Em uma manhã , que abria-se florida e perfumada, com os campos de lavanda numa profusão de roxo, rosa, lilás, vinho e até mesmo toques de amarelo, ele pegou sua charrete, atrelou-a e pôs-se a caminho, para entregar suas geleias aos fregueses da cidade.
Esse dia era muito aguardado por eles. As vendas seriam incentivadas pelo som dos vidros tilintando brandamente e a charrete barulhenta e cheia de vivacidade abrindo caminho pelas ruas . E ele voltaria com suas contas pagas, seu estoque de tintas, pincéis, telas e mercadorias para sua vivenda totalmente reposto.
Estava feliz, do seu jeito.
Preparava-se para o retorno quando a viu.
Era uma menina-moça, uma mademoiselle, de cabelos pretos cacheados e pés descalços que subia indolente a rua , com uma cesta de cerejas maduras em seus braços.
Ao chegar numa pequena escadaria, do outro lado da rua, como que obedecendo ao seu silencioso clamor, ela sentou e ficou.
Aquela imagem foi fixada em sua mente. Seus olhos sequer piscavam, para não perder nenhum mínimo detalhe : o chapéu pequeno com fita avermelhada, a blusa xadrez, de botões , a saia que formava pequenas pregas ao seu menor movimento . As pequenas cerejas , formavam cachos em sua cesta . Um semblante sério, olhar perdido, olhos castanhos, quietos, quase sem brilho. Não sorria. Também não chorava.
Sem olhar para ele, ela ergueu-se e seguiu seu caminho, vagarosa, quase preguiçosa, quase reflexiva, quase duvidosa.
Ela se foi, mas sua imagem ficou.
E ele retornou devagar, sem demonstrar em nenhum movimento o alvoroço que acontecia em sua alma. Ele queria pintar. Era dezembro, final de verão, começo de inverno, tempo de cereja…
****
Cavalete, tela, tintas, pinceis, paletas e muito tempo foram necessários para finalizar “Marie Cerise”. Enfim a pintura ficou como ele queria, como a imagem retida em sua memória. Não assinou, mas fez questão de lembrar o ano, pós guerra, pós toda a dilaceração que ela trouxe. Pós perdas e dores irremediáveis. E vidas totalmente alteradas.
****
Maio começou como sempre, chuvoso. Mas nada nem ninguém explicariam o que aconteceu naquela noite de tempestade. Ao cair da tarde, o céu azul ficou negro. Nuvens pesadas, trovões e raios, já prenunciavam o que viria. Algumas pessoas não têm medo da natureza, até que ela mostre o seu poder. Nessa hora, até os mais destemidos se calam e paralisam.
Ela veio grandiosa, com ventos fortes derrubando tudo que pode na sua frente. Foram horas de desespero. No começo da manhã, por incrível que possa parecer, o sol apareceu em sua magnitude e a imagem que ele mostrava era de pura devastação.
Ele saiu caminhando lentamente de casa. Como sempre seus movimentos calmos jamais contariam o caos que era sua alma. A casa manteve-se intacta, plena em sua construção de bases rígidas. Mas o galpão não. Fora destelhado, suas paredes e tudo que continha dentro delas fora subjugado pelo vento. Os amanheceres, poentes, luares podiam ser encontrados embaixo de uma árvore ou perto do lago, mas haveria tempo. Ele procurava por Marie Cerise, seu coração em pânico. Quando cansou da procura, parou e seus olhos marejaram, mas as lágrimas não vieram. Elas nunca vinham.
****
Aos poucos ele foi arrumando tudo, separando telas para consertar, organizando tintas e apetrechos de pintura, montando cavaletes, limpando bancadas.
E foi assim que a encontrou, embaixo de uma sebe, entre muita folhagem que, sem explicação nenhuma, formaram uma redoma e a protegeram. Estava linda, intacta e nítida como naquela tarde de dezembro, subindo descalça o caminho e disparando o coração de um confeiteiro-pintor, um homem simples e solitário, marcado por suas perdas.
Ao abraçar a tela era como se pudesse abraçar a ela também, sua pequena Marie que a vida lhe levara na guerra. Marie Cerise tinha conseguido trazer um pouquinho dela de volta, na emoção de uma pintura sobre tela.
Seus joelhos dobraram , os olhos marejaram e ele finalmente chorou lágrimas copiosas, que desceram pelo seu rosto, dos seus olhos negros, cor de azeviche.
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Boa escrita a todos e até o próximo desafio! 🌟📖
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