TATUAGENS QUE TRAGO EM MIM
Silvia Bruno Securato
Amor filial…como defini-lo?
Múltiplo profundo.
Sensação de que eu poderia fazer mais e dizer mais.
Como expressar?
Não tenho palavras…
Só sei sentir.
Mas, o sentimento é inexplicável.
Porém, posso dizer o que vejo em você, meu pai.
É força motriz, impulso, vigor.
É modelo, exemplo,
Passos que indicam o caminho
Dedicação e carinho.
Maneira de levar a vida.
Ver as laranjas rolarem ladeira abaixo porque a sacola arrebentou… e rir.
Rir tendo a certeza de que a vida “deve ser levada na esportiva”.
Essa frase está colada na minha pele, como tatuagem, desde a minha mais tenra idade.
Temos muito em comum.
Somos lindos,
Inteligentes, criativos
Pacientes, muito pacientes…
Mas, também raivosos.
E como!
Isso vem do temperamento calabrês.
Fazer o quê?
Traço dos antepassados
Passados para nós…
A bela Itália está tatuada no meu sangue.
Contestar as injustiças,
Ou mal feito, a exploração
A falta de moral
É uma constante em nós.
Honestidade acima de tudo!
É a outra tatuagem, em mim, cravada.
A oração.
Agradecimentos.
A fé em Deus.
Honrar Seu Santo Nome
Essa tatuagem está desenhada em meu coração.
A valorização da vida,
Esse vínculo sagrado
Que está acima de tudo
É outra marca que trago em mim.
E outras muitas marcas, sutis ou declaradas,
Que poderiam ser contadas.
São tantas e tantas
Mas em mim faltou ser tão minuciosa…
Você é meu pai.
Extraído da antologia bilingue Italiano & Portuguese – Amor e Amore da ACIMA – maio de 2017 Edicione Mandala.
DESPEDIDA
Nancy Alcântara
Quando chegamos da escola, a cozinha estava quieta…aquilo não era normal. Um silêncio ensurdecedor invade o ambiente da casa. Meus irmãos e eu nos entreolhamos assustados e ansiosos. Ao fechar a porta, o barulho causou resposta. Um grito abafado veio do quarto. Era um chamado sofrido, baixo, sem forças de minha mãe. Subimos a escada de madeira como em uma cavalgada, nos atropelando uns aos outros. Ao entrar no quarto, ela estava lá, deitada, como nunca fizera naquele horário. Em dia normal, o feijão estaria engrossando no fogão à lenha, a mandioca fritando e a mesa posta à nossa espera. Sentaram-se todos ao seu redor, menos eu: minha irmã mais velha bem próxima a sua face; do outro lado, Paulo, dois anos mais velho que eu e Ivone, a caçula. Eu permanecia estarrecido em pé ao pé da cama. Seus olhos cansados nos olhavam com um “q” de adeus, uma tristeza tão grande e um querer ficar imenso de preocupações de mãe. Ela falou algumas palavras que, até hoje, por mais que eu tente, não consigo me lembrar…ou não quero. Era uma despedida, ela sabia que iria embora para sempre…
Escutei esta história tantas vezes contada pelo meu pai… não sei se foi exatamente assim, mas foi desta forma que eu a absorvi, intensa de sentimentos de abandono e saudades, seu olhar ao contar era o mesmo de um menino assustado frente à morte de sua mãe.
Provavelmente, veio daí o meu desejo em entender, desvendar os sentimentos e sofrimentos das pessoas para com a técnica e a prática da psicoterapia ajudá-las.
Fiz-me psicóloga.
PAI
Jeny Soutto Mayor
Havia um tempo que, com sua mão segurando a minha, pensava eu ser esse mundo preservado e os instantes, eternos!
Fecho meus olhos e sua imagem, em momentos únicos, me envolve. Quando você me chamava para ouvir óperas e me explicava seus enredos; quando me ensinou a dançar tango, e rodopiávamos pela sala, rindo; quando me dizia que leitores de jornal têm sempre assunto; que honestidade é obrigação e não virtude; quando me ensinou a cantar La Marseillaise, hino da terra de sua mãe.
Fernando… sempre elegante, cheiroso, altivo. Meu pai.
Obrigada por me incentivar a estudar,me formar, “ pois casamento não é garantia de vida, minha filha.”
Saudades… cuido delas com carinho e gratidão.
Paizinho
Valéria Couto
Paizinho Amado, Paizinho Querido,
Tu És a minha sustentação,
quando penso em me afastar,
meus joelhos caem ao chão.
MEU PAI
Walter Duarte
“Vida é amarga”, dizia,
isso, mas sem reclamar,
e tinha, sempre eu ouvia,
voz que nasceu pra cantar.
De plantão, mal cochilar
à mesa, não tinha cama,
que passavam, anotar
os trens da Sorocabana.
Já idoso, a manquejar,
partiu sem nada deixar,
a morte ali tão quieta.
Por destino um tanto adverso,
em vida não fez um verso,
mas sinto que era um poeta.
DEIXA QUE EU CONTO PAPAI
Maria Braga
O Dia dos Pais está chegando. Um momento especial para divulgar mais um pouquinho da poesia do meu pai. Que ele possa receber toda a poesia de amor dos entes queridos que ainda estão por aqui.
Volto ao Jardim.
Jocannan
Volto ao jardim…Tu entre rosas
Um raio de ouro do sol da primavera
Ilumina-te e aquece a minha alma
A luz dourada faz-me voltar a calma
Então eu te contemplo “Majestade Flor”
Sinto o teu perfume e não te colho
Prefiro ver-te viva, feliz…
Que outros te vejam e não que estejas morta
Entre meus dedos que infelizes
Ousassem te tocar…
Tu foste feita para o mundo
Admirar-te e eu, somente para te amar
Ainda que distante, sem poder
Se quer beijar teus lábios
De mulher, Rainha das Flores
Que me mata de amor
Que alegria! Ver a poesia do meu pai deixou meu coração quentinho. Muito obrigada, oficinadolivroeditora! 🙏