Oficina do Livro Editora

A nova funcionária

A Nova Funcionária

(extraído da Antologia Histórias Inesquecíveis) – Silvia Bruno Securato

Anos 70

Paula, recém-chegada casadinha, observava seu apartamento novo. Que lindo! Amplo, confortável, tudo a seu gosto e moderníssimo!

Pretendia ser uma excelente dona – de – casa e terminar a faculdade; curtir a vida a dois antes de pensar em bebês; iniciar uma profissão… Enfim, tinha muitos planos para a nova vida que estava apenas começando.

Passou-se algum tempo e … Puxa! Que chatice fazer as mesmas coisas dia após dia! Arrumar a cama, lavar as louças, levar um verdadeiro “olé” do fogão, das panelas e dos temperos… Tudo dava uma tremenda canseira! Passar aspirador de pó, então era uma maratona tão exaustiva, que sempre dava pausa e, para descansar, punha-se a tocar violão.

Até que, um dia, uma amiga não somente indicou uma excelente pessoa para trabalhar para ela, como chegou com a dita cuja em punho, de mala e cuia. A senhora recomendada precisava morar no emprego e a decisão de Paula deveria ser rápida. Porém, ao contrário do que havia combinado com o maridinho, a secretária do lar não deveria dormir em casa, pois tiraria totalmente a liberdade do casal. Nessas alturas, ela deveria ser bastante persuasiva e infalível ao comentar o assunto com ele, pois dona Iracema já estava lá e Paula não queria perde essa preciosidade.

Dona Iracema, que aparentava ter uns 60 anos, era muito cuidadosa e eficiente, segundo referencias da amiga.

A Nova funcionária, após se instalar em seus novos aposentos, começou a preparar um delicioso jantar, enquanto Paula ensaiava argumentos positivos para convencer o marido, uma vez que gostou muito da tal senhora e as referencias a seu respeito eram ótimas. Andando de um lado para o outro, pensava em enumerar as várias qualidades e experiências dela que, além de tudo era cozinheira de forno e fogão! E mais: era dis-cre-tís-si-ma, quase não sei via a sombra dela, de tão tímida, educada e recatada que era.

Ótimo! – disse em voz alta, estralando os dedos. – Hei de convence-lo num piscar de olhos! Vou dizer que encontrei a pessoa certa, em um primeiro momento e, na hora do jantar, a surpresa final: ela vai morar conosco!

O maridinho chegou e, logo na entrada da sala, começou a dar inicio ao seu habitual strip-tease, até chegar ao chuveiro para um merecido banho, após um dia duro de trabalho.

Ela o acompanhou e, com toda firmeza, pôs-se a explanar a novidade: que estavam com uma ma-ra-vi-lho-sa funcionária, tão eficiente e, de fato, im-per-dí-vel!

Ele retrucou com as hipóteses já conversadas anteriormente, relutou… contudo, até que cedeu rapidamente.

Saiu do banho, jogou a toalha na cama e dirigiu-se ao seu escritório era o primeiro quarto do corredor, próximo à sala e, estrategicamente, bem em frente à porta da cozinha.

Eis que, exatamente nesse momento, dona Iracema abre a bendita porta, chamando:

Donaaaaa…. – a coitada arregalou os olhos , interrompeu abruptamente o que ia falar e fechou a porta apressadamente.

Hum! Ele foi tomado de surpresa, entrou no quarto rapidamente e sentou-se na escrivaninha, digamos… com ara de espanto!

Paula colocando as mãos na cabeça pensou: “O que essa mulher tinha que abrir a porta bem agora? Oh! Céus!”.

Dona Iracema, que era parecidíssima com a dona Benta do Sítio do Pica-pau Amarelo, de moreninha ficou branquinha e, em seguida, vermelhinha!

Que cena hilária! De tão nervosa, Paula começou a gargalhar e o marido, desconcertado, a acompanhou.

Meu bem – disse ela – prometo que isso nunca mais vai acontecer. Vou orientá-la direitinho!

Ele respondeu:

Bom, uma coisa é certa. Ela já me conheceu por inteiro!

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